Histórias de vida, estrutura psiqúica e livre
arbítrio... cada sujeito tem como direito a liberdade de expressão e de idealizar sua vida como bem desejar. Tal condição possibilita a emergência de conflitos e divergências, contudo, também abrem
caminho para discussões saudáveis, conscientizações e aprendizados que
não aconteceriam se todos nós fossemos iguais. O caso é
que, com a possibilidade de sermos excepcionais em algo, no pensar e
sentir, surgem as fragilidades de nosso psicológico, portas que
possibilitam a origem de estados psíquicos e condições que, muitas
vezes, permanecem como incógnitas. Um exemplo desses estados é a
melancolia. Freud, em seu clássico texto Luto e Melancolia, já previa
uma certa dificuldade para definir esta condição emocional que se
assemelha ao luto, mas sem o contexto da perda. O problema na
identificação da melancolia é que ela se manifesta de diversas formas,
dificultando seu enquadramento em um bloco único. Para a psicanálise, a melancolia é o estágio mais extremo da
depressão. A apatia do melancólico é fruto da perda de algo ou de
alguém, que precisa ser compreendida e superada, em um processo
semelhante ao do luto. A diferença é que, enquanto no luto a perda é
compreendida, na melancolia ela é inconsciente: não se sabe o que foi
perdido."Nada atrai o melancólico, a não ser o próprio sofrimento. Ele está
absorvido nele mesmo", diz Sandra Edler, autora de "Luto e Melancolia: À
Sombra do Espetáculo" . A cultura atual
conspira contra o melancólico, diz a psicanalista. "Se a pessoa perde
algo, precisa se recolher, mas a vida a chama para um eterno desempenho,
se não quiser perder espaço."
Por esse, entre outros
motivos, produção dirigida e escrita por Lars von Trier não poderia ter outro nome senão a desta disfunção emocional, MELANCOLIA.O filme mostra desde a felicidade, com pequenos desvios e falhas, até o
árduo estado de desânimo e desinteresse pelas coisas do mundo em dois
distintos episódios da história de duas irmãs, Justine e Claire. Assim
como a melancolia definida por psicólogos, o filme não funciona em um
único bloco, sendo dividido em duas partes que assemelham-se à
curtas-metragens de mesmo elenco tamanha a divergência entre ambas: o
que a princípio remete-nos a uma constrangedora reunião familiar
realizada devido a comemoração do casamento de Justine, passando pelas
tênues linhas entre o vergonhoso e o rotineiro dos comportamentos
humanos, finaliza-se com nada mais, nada menos, que o fim do mundo
através da visão de von Trier.
Fontes:
* http://www1.folha.uol.com.br
* http://cinemaeafins.com
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