terça-feira, 7 de maio de 2013

A tarefa árdua de evitar o sofrimento


O sofrimento nos ameaça a três direções: de nosso próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo podem dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens. O sofrimento que provém dessa última fonte talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro. Tendemos a encará-lo como uma espécie de acréscimo gratuito, embora ele não possa ser menos fatidicamente inevitável do que o sofrimento oriundo de outras fontes.” (FREUD, 1997)

 

       A tarefa de evitar o sofrer é uma pratica comum ao homem. Segundo Freud (1997), o homem pode evitar o desprazer isolando-se de seus semelhantes, ou seja, evitando contato com o mundo externo e suas regras (que têm como objetivo ajustar os relacionamentos na sociedade, no Estado e na família). Outro método é o uso de substâncias químicas que, do ponto de vista freudiano, funcionam como “amortecedores de preocupações”, provocando no sujeito sensações prazerosas e alterando sua percepção em relação a estímulos desagradáveis. Outra forma de se defender do sofrimento implica na dominação das necessidades internas, algo como silenciar a mente, práticas comuns na meditação e na yoga. Outra perspectiva consiste no deslocamento da libido para atividades intelectuais e criativas, a sublimação. Uma das formas mais eficazes de evitar o sofrimento, porém destruidora, é a ruptura com a realidade – característica presente na estrutura de personalidade psicótica, na qual o sujeito constrói uma nova realidade, onde aspectos insuportáveis não mais existam.
       No entanto, essas saídas que têm como objetivo evitar o sofrimento, nem sempre são bem sucedidas, pois proporcionam a felicidade de forma destrutiva, momentânea ou pela quietude – na qual o sujeito abandona suas atividades em sociedade. Sendo que nenhum método mostra-se eficaz e duradouro no que diz respeito ao preenchimento do vazio sentido pelo sujeito que se encontra em sofrimento psíquico.
      De acordo com Dantas e Tobler (2003), a dor do viver pode ser comparada a um estado de suspensão, no qual o sujeito não consegue encontrar uma razão para sua existência. O estado de sofrimento psíquico faz emergir o vazio existencial que insistimos em tamponar, pois a sua presença é o enfrentamento da verdade, com a “falta da falta”.
      A Falta, segundo Lacan refere-se á um “objeto perdido da espécie humana”. Já na visão de Freud, o objeto perdido está relacionado à história de cada sujeito. Assim Lacan nomeia o primeiro como “coisa” e o segundo, como objeto causa de desejo. O objeto perdido referente à história de vida do sujeito poderá ser novamente encontrado em objetos substitutos que nos deparamos ao longo da vida, mas, por traz desses objetos suplentes, o sujeito irá sempre de encontro à “coisa”, o objeto perdido da espécie humana. (COSTA, 2007)
    O ponto essencial na constituição do sujeito é a falta, pois é ela quem move o desejo e que consequentemente faz com que a angústia se torne presente quando o tamponamento do vazio com os “objetos substitutos” não é eficaz. O fracasso no emprego desses recursos faz com que a falta aponte, causando a sensação de vazio. Na concepção de Lacan, a angústia é a emergência do real que impele o sujeito a um estado de paralisia, fazendo-o se expressar pelo sentimento de desamparo, solidão e melancolia. (DANTAS E TOBLER, 2003)
     Com base em SILVA, NOGUEIRA E FRAGA (2009), o homem, no esforço de não sentir o vazio, busca no individualismo e no consumismo aniquilar a angústia. A fim de evitar o sofrimento o homem centra-se em si mesmo e, dificilmente, estabelece relações solidárias, tendo em vista o fato de que as relações em sociedade são regadas à superficialidade e à insegurança.

REFERÊNCIAS:

 FREUD, S. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
 DANTAS, A, M; TOBLER, L, V. O sofrimento psicológico é a pedra angular sobre o qual repousa a cultura de consumo, 2003. 
 COSTA, T. Jacques Lacan e a falta de objeto. 2007. 
 SILVA, L, M, M; NOGUEIRA, M, V; FRAGA, B, V. O Vazio Existencial: de Lacan à contemporaneidade, 2009. 
 

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