“O
sofrimento nos ameaça a três direções: de nosso próprio corpo, condenado à
decadência e à dissolução, e que nem mesmo podem dispensar o sofrimento e a
ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se
contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de
nossos relacionamentos com os outros homens. O sofrimento que provém dessa
última fonte talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro. Tendemos a
encará-lo como uma espécie de acréscimo gratuito, embora ele não possa ser
menos fatidicamente
inevitável do que o sofrimento oriundo de outras fontes.” (FREUD, 1997)
A tarefa de evitar o sofrer é uma pratica comum ao
homem. Segundo Freud (1997), o homem pode evitar o desprazer isolando-se de
seus semelhantes, ou seja, evitando contato com o mundo externo e suas regras
(que têm como objetivo ajustar os relacionamentos na sociedade, no Estado e na
família). Outro método é o uso de substâncias químicas que, do ponto de vista freudiano,
funcionam como “amortecedores de preocupações”, provocando no sujeito sensações
prazerosas e alterando sua percepção em relação a estímulos desagradáveis.
Outra forma de se defender do sofrimento implica na dominação das necessidades
internas, algo como silenciar a mente, práticas comuns na meditação e na yoga. Outra perspectiva consiste no
deslocamento da libido para atividades intelectuais e criativas, a sublimação.
Uma das formas mais eficazes de evitar o sofrimento, porém destruidora, é a
ruptura com a realidade – característica presente na estrutura de personalidade
psicótica, na qual o sujeito constrói uma nova realidade, onde aspectos
insuportáveis não mais existam.
No entanto, essas saídas que têm como objetivo evitar
o sofrimento, nem sempre são bem sucedidas, pois proporcionam a felicidade de
forma destrutiva, momentânea ou pela quietude – na qual o sujeito abandona suas
atividades em
sociedade. Sendo que nenhum método mostra-se eficaz e
duradouro no que diz respeito ao preenchimento do vazio sentido pelo sujeito
que se encontra em sofrimento psíquico.
De acordo com Dantas e Tobler (2003), a dor do viver
pode ser comparada a um estado de suspensão, no qual o sujeito não consegue
encontrar uma razão para sua existência. O estado de sofrimento psíquico faz
emergir o vazio existencial que insistimos em tamponar, pois a sua presença é o
enfrentamento da verdade, com a “falta da falta”.
A Falta, segundo Lacan refere-se á um “objeto perdido
da espécie humana”. Já na visão de Freud, o objeto perdido está relacionado à
história de cada sujeito. Assim Lacan nomeia o primeiro como “coisa” e o segundo, como objeto causa de
desejo. O objeto perdido referente à história de vida do sujeito poderá ser
novamente encontrado em objetos substitutos que nos deparamos ao longo da vida,
mas, por traz desses objetos suplentes, o sujeito irá sempre de encontro à “coisa”,
o objeto perdido da espécie humana. (COSTA, 2007)
O ponto essencial na constituição do sujeito é a
falta, pois é ela quem move o desejo e que consequentemente faz com que a
angústia se torne presente quando o tamponamento do vazio com os “objetos
substitutos” não é eficaz. O fracasso no emprego desses recursos faz com que a
falta aponte, causando a sensação de vazio. Na concepção de Lacan, a angústia é
a emergência do real que
impele o sujeito a um estado de paralisia, fazendo-o se expressar pelo
sentimento de desamparo, solidão e melancolia. (DANTAS E TOBLER, 2003)
Com base em SILVA, NOGUEIRA E FRAGA (2009), o homem,
no esforço de não sentir o vazio, busca no individualismo e no consumismo
aniquilar a angústia. A fim de evitar o sofrimento o homem centra-se em si
mesmo e, dificilmente, estabelece relações solidárias, tendo em vista o fato de
que as relações em sociedade são regadas à superficialidade e à insegurança.
REFERÊNCIAS:
FREUD, S. O mal-estar na civilização. Rio de
Janeiro: Imago, 1997.
DANTAS, A, M; TOBLER, L, V. O sofrimento psicológico é a pedra angular sobre o qual repousa a
cultura de consumo, 2003.
COSTA, T. Jacques
Lacan e a falta de objeto. 2007.
SILVA, L, M, M; NOGUEIRA, M, V; FRAGA, B, V. O Vazio Existencial: de Lacan à contemporaneidade, 2009.
SILVA, L, M, M; NOGUEIRA, M, V; FRAGA, B, V. O Vazio Existencial: de Lacan à contemporaneidade, 2009.
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